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En'o nome de Deus. Eu rei don Afonso pela gracia de Deus rei de Portugal, seendo sano e saluo, temëte o dia de mia morte, a saude de mia alma e a proe de mia molier raina dona Orraca e de me(us) filios e de me(us) uassalos e de todo meu reino fiz mia mãda p(er) q(ue) de
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pos mia morte mia molier e me(us) filios e meu reino e me(us) uassalos e todas aq(ue)las cousas q(ue) De(us) mi deu en poder sten en paz e en folgãcia. P(ri)meiram(en)te mãdo q(ue) meu filio infante don Sancho q(ue) ei da raina dona Orraca agia meu reino enteg(ra)m(en)te e en paz.
E ssi este for
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morto sen semmel, o maior filio q(ue) ouuer da raina dona Orraca agia o reino entegram(en)te e en paz. E ssi filio barõ nõ ouuermos, a maior filia q(ue) ouuuermos agia'o ...
En'o nome de Deus. Eu rei don Afonso pela gracia de Deus rei de Portugal, seendo sano e saluo, temëte o dia de mia morte, a saude de mia alma e a proe de mia molier raina dona Orraca e de me(us) filios e de me(us) uassalos e de todo meu reino fiz mia mãda p(er) q(ue) de
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pos mia morte mia molier e me(us) filios e meu reino e me(us) uassalos e todas aq(ue)las cousas q(ue) De(us) mi deu en poder sten en paz e en folgãcia. P(ri)meiram(en)te mãdo q(ue) meu filio infante don Sancho q(ue) ei da raina dona Orraca agia meu reino enteg(ra)m(en)te e en paz.
E ssi este for
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morto sen semmel, o maior filio q(ue) ouuer da raina dona Orraca agia o reino entegram(en)te e en paz. E ssi filio barõ nõ ouuermos, a maior filia q(ue) ouuuermos agia'o ...
Eis as primeiras palavras escritas numa língua que se tem espalhado pelo mundo e que, como diz o Manifesto 2014 inserto no jornal Público, "É uma forma de sentir e de lembrar; um registo, arca de muitas memórias;
um modo de pensar, uma maneira de ser – e de dizer. É espaço de
cultura, mar de muitas culturas, um traço de união, uma ligação. É
passado e é futuro; é história. É poesia e discurso, sussurro e
murmúrios, segredos, gritaria, declamação, conversa, bate-papo,
discussão e debate, palestra, comércio, conto e romance, imagem,
filosofia, ensaio, ciência, oração, música e canção, até silêncio. É um
abraço. É raiz e é caminho. É horizonte, passado e destino".
Hoje são comemorados oitocentos anos do mais antigo documento oficial conhecido em língua portuguesa, o Testamento de Dom Afonso II, terceiro rei de Portugal, datado de 27 de junho de 1214, descoberto em 1973 e publicado pela primerira vez em 1979 pelo Padre Avelino Jesus da Costa. Deste texto existem dois exemplares, enviados ao arcebispo de Braga e ao arcebispo de Santiago.
Afonso II de Portugal, "o Gordo", filho de D. Sancho I de Portugal e de D. Dulce de Aragão, nasceu em Coimbra a 23 de abril de 1185 e faleceu em Santarém a 25 de março de 1223, tendo sido sepultado no Mosteiro de Alcobaça.
O Testamento de 1214 juntamente com a Notícia de Torto (datada entre 1211 e 1216, na qual são referidas "as malfeitorias de que foi injustamente vítima Lourenço Fernandes da Cunha") e com a Notícia de Fiadores de 1175 recentemente descoberta, aparecem como os documentos originais mais antigos escritos em português.