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quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Grimórios

Lá vão três divertidas histórias dos colegas de Avançado 2 da E.O.I. de Zafra: do Manuel ("A caça do bambozino", da Carmen ("Livro das Cornucópias) e do José Antonio ("Livro da Bruxa Loira"), inspiradas no Grimório de São Cipriano. Esperamos que gostem delas. Se calhar podem pôr em prática...


LIVRO DE MANUEL O BRUXO
                                                         Folha 666


A CAÇA DO GAMBOZINO
Há nesta nossa terra estremenha uma antiga lenda que fala da existência dum animal noturno que é muito difícil de caçar: é o chamado “gambozino”.
Muitos dizem que na realidade não existe, mas o sábio e velho Bruxo Manuel pode afirmar que os gambozinos realmente existem, e que o sortudo que o consiga capturar terá muito proveito.
A primeira recomendação é clara: acreditar na existência deles. Depois a caça começa: espera que chegue uma noite sem lua, sem vento e sem nuvens, porque os gambozinos apenas gostam da luz das estrelas. Leva contigo um saco grande e uma corda para evitares que os gambozinos fujam do saco. Não leves lanterna nem luz nenhuma; os gambozinos fugiriam no mesmo instante. Olha para para às árvores e atrás das rochas, e quando se mostrarem, canta bem alto:
       “Um, dois, três, quatro… gambozino para o saco”
Se tiveres a sorte de apanhar um gambozino a tua vida mudará para melhor, desde que não abras o saco para olhares no interior e conheceres o segredo dos gambuzinos.
                                  O Bruxo Manuel
                            (Zafra, 22 novembro 1666)


LIVRO DAS CORNUCÓPIAS

Extractos do Livro das Cornucópias, escrito no século XIV na Estremadura pela venerável e celebrizada Candela “A Feiticeira”.

“A magia é uma ciência sublime que ultrapassa o terrenal e que nos aproxima do Ser espiritual pelo qual foi criada a Mãe Natureza nascida do encontro entre a Luz e a Escuridão. Só as almas puras e inteligentes podem atingir os secretos conhecimentos que se têm constituído em tradição oral desde os nossos antepasados e que eu, humilde servente do Logos, tentarei escrever para que vivam por sempre.”

“Precisa-se de um trem composto por talheres de madeira de carvalho, um bom almofariz de xisto verde, várias panelas de barro e um caldeirão de cobre. O traje também é importante: túnica vermelha para as mulheres e azul para os homens; capa preta e chapéu pontiagudo em feltro preto con abas. Mas o mais necessário é a aptidão: é preciso ter a graça da discrição e da magnanimidade para o aprendiz poder tornar-se em experto e assim ser útil a todo aquele que necessite da sua ajuda.”

“Para apanhar azeitonas. Após ter engolido a poção de inverno em frente da árvore, um café com cheirinho fervido numa panela por dois minutos e meio, dar cinco voltas à oliveira enquanto se repete a fórmula a seguir: Ó espíritos dos óleos, venham na nossa ajuda, afastem o frio e a chuva, e aqueçam os nossos corpos!”

“Para se obter o melhor gaspacho. Misturar no almofariz o pão, o azeite, o vinagre, o alho, o tomate e o sal. Triturar com o pilão devagarinho por noventa minutos. A cada cinco minutos beber um copo com sumo de uvas fermentadas e dizer a cada gole: Pilão amigo do vinho do Baco, não sejas impaciente e eu dar-te-ei o teu trago, ao passo que juntos fazemos o gaspacho.”

“Para se ter um bom dia. Antes da saída do sol, pôr no caldeirão porções variáveis, tendo em conta a altura e o peso da pessoa, de bolotas, miolo de pão com chouriço, vinho tinto, vinho branco e aguardente. Remover com ternura por volta de duas horas, invocando aos druidas Epicuro e Panorámix. No momento do pequenho almoço pedir para alguém que experimente a beberagem. O mais provável é que nesse instante fique doente a vítima. Com certeza que o resto vai passar um dia feliz por não ter adoecido.”

“Para uma boa sesta. Os melhores resultados serão obtidos no caso de ter feito e consumido o gaspacho à maneira explicada anteriormente neste mesmo grimório. Só basta pegar uma panela cheia de grão-de-bico e contá-los. A magia fará o resto.”



LIVRO DA BRUXA LOIRA.

Feitiço para namorar a mulher dos teus sonhos.


Ao cair a noite de um gélido dia de inverno, vá às montanhas que fiquem mais perto da sua morada e no luar procure a penha mais alta para se sentar encima dela a meio da escuridão. Se por acaso estiver nevoeiro, pode-se ajudar da fraca luz de um candeeiro na procura da rocha desejada. Aguarde sentado lá até à meia-noite e não deixe o lugar mesmo que sinta a chamada da natureza por causa de ter comido ou bebido em excesso para combater as baixas temperaturas e a chatice da solidão noturna.

Após a meia-noite, espere até passar um lobo que tenha apenas uma pata preta e não só tente caçá-lo com uma atiradeira; além de o tentar, consiga-o. É muito importante que o animal seja um lobo com uma pata preta, não um simples cão selvagem. Isto é inegociável!

Quando finalmente você tiver conseguido o seu alvo com sucesso – às vezes podem transcorrer inúmeras horas, noites intermináveis ou ainda semanas inteiras -, vá imediatamente para casa da sua futura namorada e, se for possível, chegue lá por volta das quatro ou cinco horas da manhã. Comece a cantar uma estudantina dedicada para ela, bata à porta mesmo com todas as forças que conserve e mantenha-se à espera da aparição da imagem sensual da sua namorada a vestir um velho pijama às riscas coberto por um roupão aos quadrados castanhos e roxos enquanto exibe os rolos na cabeça e o seu comprido cabelo embrulhado numa rede.
   
Com certeza, a mulher dos seus sonhos ficará apaixonada por você, por esse olhar fixo e húmido, esse sorriso inalterável afixado no seu gelado rosto, essa tez fresca e tersa sem ruga nenhuma, esse corpo magro e encolhido,... Em resumo, a sua mulher ideal ficará cativada pela visão romântica de um corpo que só umas noitadas campestres vividas na solidão das montanhas com temperaturas abaixo de zero e a única companhia dos lindos uivos dos lobos da pata preta podem oferecer-lhe.

Se a mulher lhe permitir concluir a interpretação da serenata sem lhe atirar qualquer balde de água fria, peça-lhe para entrar na sua casa e tomar quer um copioso jantar demorado quer um pequeno-almoço com leite muito quente e torradas com manteiga. Se calhar este encontro furtivo será o começo de uma “amizade de longa data”.

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