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quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

MARIZA

Atualmente um dos ícones mais representativos de Portugal no que se refere à música é, sem dúvida, a fadista Mariza. De facto, há quem diga dela que é a verdadeira continuadora da fama e do prestigio que Amália Rodrigues deu a Portugal não só dentro das próprias fronteiras, mas também no mundo todo.


Mariza nasceu em Maputo (Moçambique) em 1973. Filha de pai português e mãe moçambicana, a família foi viver a Lisboa em 1977 apôs a perda das colônias portuguesas de ultramar. À idade de cinco anos, Mariza começou a cantar fados para entreter os clientes no restaurante que o seu pai geria no bairro lisboeta da Mouraria, berço do fado. Na adolescência, até se assumir como fadista profissional, cantou diversos géneros musicais como, pop, gospel, soul, jazz e ainda música ligeira, acompanhando o artista/cantor Luís Filipe Reis. Na época, não caía bem entre os amigos dizer que um dos seus hobbies era cantar fado. Além disso, a música brasileira tornou-se uma atração para Mariza, que viveu durante cinco meses no Brasil, no ano 1996.

Esta popular fadista tem recebido um amplo reconhecimento não só em Portugal, mas também a um nível internacional. Muitos dos fados que popularizou a grande diva Amália têm sido interpretados com maestria por Mariza, e é especialmente um de eles, Ó Gente da Minha Terra, que encontra as mais profundas saudades entre os portugueses espalhados por toda a geografia mundial.

Nesta ocasião temos escolhido vídeos de três fados muito representativos da tradição musical portuguesa cantados por Mariza num concerto que teve lugar na Torre de Belém em Lisboa e dos quais incluímos as letras: PrimaveraDesejos Vãos Ó Gente da Minha Terra.



Todo o amor que nos prendera
Como se fora de cera
Se quebrava e desfazia
Ai funesta primavera
Quem me dera, quem nos dera
Ter morrido nesse dia

E condenaram-me a tanto
Viver comigo meu pranto
Viver, viver e sem ti
Vivendo sem no entanto
Eu me esquecer desse encanto
Que nesse dia perdi.

Pão duro da solidão
é somente o que nos dão
O que nos dão a comer.
Que importa que o coração
Diga que sim ou que não
Se continua a viver.

Todo o amor que nos prendera
Se quebrara e desfizera
Em pavor se convertia.
Ninguém fale em primavera
Quem me dera, quem nos dera
Ter morrido nesse dia.


O segundo fado escolhido é Desejos Vãos, uma canção baseada num poema de Florbela Espanca, uma poetisa portuguesa nascida na cidade alentejana de Estremoz.


Eu queria ser o mar de altivo porte
Que ri e canta, a vastidão imensa!
Eu queria ser a pedra que não pensa,
A pedra do caminho, rude e forte!

Eu queria ser o Sol, a luz intensa,
O bem do que é humilde e não tem sorte!
Eu queria ser a árvore tosca e densa
Que ri do mundo vão e até da morte!

Mas o Mar também chora de tristeza...
As árvores também, como quem reza,
Abrem aos Céus os braços como um crente!

E o Sol altivo e forte, ao fim de um dia,
Tem lágrimas de sangue na agonia!
E as pedras... essas... pisa-as toda a gente!


E por último, gostava de concluir este artigo com Ó Gente da minha terra, o fado que talvez exprima e transmita mais saudades em qualquer pessoa que se preze de ser português e que com certeza nos apresenta uma fadista, Mariza, que é ao mesmo tempo divina e humana.

É meu e vosso este fado
Destino que nos amarra
Por mais que seja negado
Às cordas de uma guitarra

Sempre que se ouve o gemido
De uma guitarra a cantar
Fica-se logo perdido
Com vontade de chorar

Ó gente da minha terra
Agora é que eu percebi
Esta tristeza que trago
Foi de vós que recebi

E pareceria ternura
Se eu me deixasse embalar
Era maior a amargura
Menos triste o meu cantar

Ó gente da minha terra
Agora é que eu percebi
Esta tristeza que trago
Foi de vós que recebi

Ó gente da minha terra
Agora é que eu percebi
Esta tristeza que trago
Foi de vós que recebi.

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