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terça-feira, 8 de outubro de 2013

Na literatura, como na mesma vida, é preciso arriscar-se, abrir-se, entregar-se.
Assim pois, atenção leitor, começar a ler este livro é um risco, porque você pode destapar a sua mais secreta paixão. Sente-se à sombra do nosso sobreiro para iniciar esta viajem da mão dos livros, deixe-se adormecer pelo o agradável roído do vento ao passar entre as folhas desta árvore.
Inclusive se cometeu qualquer crime, ou têm um segredo inconfessável, não terá mais remédio que revelar-se com as palavras que nós lhe oferecemos"


  "Cumpridos dez anos de prisão por um crime que não pratiquei e do qual, entanto, nunca me defendi: morto para a vida e para os sonhos; nada podendo já esperar e coisa alguma desejando-  eu venho fazer enfim a minha confissão: isto é: demonstrar a minha inocência.
  Talvez não me acreditem. Decerto que não me acreditam. Mas pouco importa. O meu interesse hoje em gritar que não assassinei Ricardo de Loureiro, é nulo. Não tenho família; não preciso que me reabilitem. Mesmo, quem esteve dez anos preso, nunca se reabilita. A verdade simples, é esta.
  E àqueles que, lendo o que fica exposto, me perguntarem: "Mas porque não fez a sua confissão quando era tempo? porque não demostrou a sua inocência ao tribunal?"-a esses responderei:- A minha defesa era impossível. Ninguém me acreditaria. E fora inútil fazer-me passar por um embusteiro ou por um doido...Demais, devo confessar, após os acontecimentos em que me vira envolvido nessa época, ficara tão despedaçado que a prisão se me afigurava uma coisa sorridente. Era o esquecimento, a tranquilidade, o sono".


"A confissão de Lúcio"
Mário de Sá-Carneiro
Ed. Assírio & Alvim

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